segunda-feira, 10 de agosto de 2009

MEU PAI


Visitando interior, coisa que de vez em quando faço, pude comprovar o que os estudiosos na matéria dizem: que muitas plantas menores, nascem e crescem à sombra árvores grandes.
Por isso, é comum observar que, caindo a árvore maior, em vista da incidência do sol, os arbustos e pequenas árvores morrem.
Partindo dessa observação, pensei em meu pai. Árvore grande e frondosa, na sombra da qual crescemos nós, árvores menores e arbustos, seus filhos.
Meu pai, homem de valor que admiro tanto, com suas virtudes e também com seus limites e defeitos.
Homem sempre atento às coisas da vida, que gosta da leitura à sombra das árvores, que me mostra que às vezes é melhor dar uma parada no estaleiro do que se lançar ao alto mar sem as condições necessárias.
Grande contador de histórias, de sorriso largo, alegre e brincalhão, mesmo nos momentos da adversidade, espalhando no meu caminhar segurança e confiança no futuro.
Homem de fé, por vezes pensativo, sempre acreditando nas pessoas, mesmo indignas de confiança.
Sempre disposto a lutar, com grande generosidade.
Meu pai, paizão, que não admite o diminutivo porque é grande, em todos os sentidos, meu velho, meu amigo, meu conselheiro.
Amigo dos amigos e também dos inimigos, se houver.
Árvore grande que me fez sombra durante muito tempo, até que tivesse condições de suportar a inclemência do sol da vida, mas em cuja sombra sempre me refugio.
Meu pai, que quando eu era criança, pensei que ele sabia tudo e que era o homem mais alto e mais forte do mundo; que na adolescência, pensei que não sabia nada e que era antiguado e nem tão grande assim; que na juventude acheio-o desatualizado e que agora penso que tem bom senso e muita experiência.
Pai. Meu pai...
Que quando eu tentava fugir dos compromissos, sempre me dizia que se não os encarasse, eles ganhavam força e voltavam e voltavam.
Que me ensinou a equidade, mostrando-me que na vida, cada um recebe aquilo que lhe é devido.
Que me mostrou a moderação quando eu pensava que podia mudar o mundo e as pessoas.
Que me falou que nem sempre a maioria nos leva para o lugar certo, quando eu queria ir sempre com a multidão.
Que me disse que bem perto de mim tem alguém com os mesmos direitos que eu, quando eu só tinha olhos para o meu umbigo.
Que me disse que liberdade rima com responsabilidade.
Que me mostrou que eu jamais poderia resolver os problemas dos outros, sem que resolvesse primeiramente os meus.
Que me falou de flexibilidade, diante dos ventos que me açoitaram a vida.
Que me ensinou sobre Deus e de que como ele ajuda os que botam a mão na massa e de que como ele detesta os preguiçosos.
Por isso que hoje, vendo uma multidão de crianças e adolescentes, muitos dos quais caminham a passos largos para o abismo, sem alguém para lhes dar a mão, eu só faço um pedido a Deus: “Que os dê um pai como o meu”.
* O pai do autor é conhecido no Bairro Buritizal como “Seu Costa”, antigo vendedor de madeira. É comum vê-lo, na Rua Hildemar Maia, sentado à sombra de uma arvore, lendo um bom livro.
Foto: Meu Pai, minha Mãe e meu Filho

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